É de conhecimento da maioria dos brasileiros que o saneamento ambiental, de modo geral, no Brasil ainda é muito deficiente, 51,4% dos brasileiros não detém de qualquer sistema de coleta e tratamento de esgoto e nas áreas rurais essas características só pioram o quadro.
Enquanto essa situação persiste no Brasil as pessoas que residem nessas condições são as mais prejudicadas, sendo expostas a condições precárias de saúde pública, convivendo desde com a escassez de água a doenças de veiculação hídrica.
Enquanto o sistema de coleta e tratamento de esgoto não é instalado alguns pesquisadores tentam equacionar essas questões com soluções de curto e médio prazo e de baixo custo, como é o caso do Engenheiro Ambiental Railan Sarges do Estado do Amapá, que desenvolveu uma adaptação do sistema tratamento de esgoto por biodigestão da EMBRAPA para funcionamento em uma comunidade rural no Estado do Amapá.
“Esta comunidade é muito especial para mim, morei por muito tempo nela, e procurei com meus conhecimentos retribuir de alguma forma. Sempre vi que aquela comunidade era desprovida de qualquer estrutura para coleta e tratamento do esgoto, então procurei algumas soluções para essa problemática e encontrei na EMBRAPA um sistema de tratamento na qual realizei algumas modificações para adapta-la a comunidade local“ disse Eng. Railan Sarges a LogicAmbiental.
Nas áreas rurais é comum a destinação dos esgotos domiciliares no próprio solo, em cursos hídricos ou em fossas negras, que são alternativas prejudiciais ao meio ambiente, pois aumentam a probabilidade de incidência de doenças relacionadas ao contato com as excretas sem tratamento, e um alto potencial de contaminação do lençol freático ou de corpos hídricos superficiais em áreas rurais com densidade demográfica relativamente alta.
O sistema de fossa séptica biodigestora foi desenvolvido em uma residência com cinco habitantes na comunidade chamada Vila Equador, localizada no Distrito de Bailique, que está a uma distância de aproximadamente 200 quilômetros do munícipio de Macapá-AP.
“Foram utilizados materiais de baixo custo e de fácil comercialização, para tornar o sistema o mais acessível para a comunidade local, como, por exemplo reservatórios de fibra de vidro e tubos e conexões de PVC” diz Eng. Railan.
O sistema constitui de quatro caixas de fibra de vidro com capacidade de 1000 litros cada organizadas em série, sendo a primeira conectada exclusivamente ao vaso sanitário (para que o sabão e detergente não prejudiquem o processo de biodigestão, o que poderia acontecer se fosse também conectada as águas proveniente das pias do banheiro) e a ultima serve para coleta de efluente tratado que possui potencial de ser utilizado como adubo orgânico.
Saiba mais
Processos para o tratamento de efluentes na mineração
Métodos de tratamento de efluentes em aterros sanitários
Imagem – Sistema fossa séptica biodigestora
As caixas são conectadas por meio de tubos, conexões e tê de inspeção de PVC, conforme observado na figura.
O sistema de tratamento de esgoto funciona por meio da decomposição dos dejetos humanos. A biodigestão consiste em degradar os compostos orgânicos por meio de bactérias anaeróbicas, convertendo-os principalmente em metano (CH4) e o dióxido de carbono (CO2). Todo esse processo de biodigestão dura cerca de vinte e quatro dias, intervalo de tempo compreendido entre a entrada do efluente na primeira caixa até a saída do efluente da quarta caixa. Tempo mínimo para que ocorra a biodigestão, de acordo com a literatura existente.
Imagem – Sistema Fossa Séptica Biodigestora com quatro caixas de fibra de vidro
De acordo com o estudo realizado pelo Engenheiro Railan, após as análises físico-químicas e microbianas do efluente tratado, o resultado do sistema foi considerado satisfatório, pois as características finais do efluente gerado foram adequadas para a reutilização como fertilizante na área rural, sendo assim o sistema além de tratar o efluente, resguardando a qualidade ambiental da localidade, já que estes não serão mais despejados em corpos d’águas ou no solo, sem o devido tratamento, o produto final do sistema é muito útil do ponto de vista agrícola.
COMENTÁRIO LOGICAMBIENTAL
Considerando que essa tecnologia é de baixo custo, com materiais de fácil comercialização e ainda de fácil manutenção e que gera um resultado favorável ao tratamento do efluente, nos da LogicAmbiental vimos a possibilidade de adaptação desse sistema para o tratamento de efluentes provenientes de áreas alagadas dos municípios de Macapá e Santana, pois considerando que essas regiões são desprovidas de qualquer sistema de coleta e tratamento de esgoto. A adaptação desse sistema de tratamento seria uma ótima alternativa para a redução da poluição local e consequentemente na melhoria da qualidade da saúde pública dos habitantes dessas regiões.
A quantidade de caixas a serem utilizadas é proporcional a quantidade de efluente gerado, para utilização desse sistema em áreas alagadas de Macapá e Santana essa quantidade poderia aumentar, além de aumentar o tempo de detenção ou ainda a utilização de outros mecanismos que auxiliassem no aumento da eficiência do processo de biodigestão.
Para ter acesso a pesquisa realizado pelo Engenheiro Railan Sarges solicite através do e-mail abaixo.
contato@logicambiental.com.br