Os corais são os principais organismos constituintes e estruturadores dos recifes de corais, utilizando o Carbonato de Cálcio (CaCO3(s)) para constituir sua estrutura exoesquelética, sendo responsáveis por abrigar e formar um dos maiores habitats da Terra para diversas espécies animais marinhas.
Imagem – Recifes de corais no fundo do Mar
Até recentemente, a definição mais difundida sobre as condições necessárias para o desenvolvimento de recifes de corais era que “Os recifes de corais ocorrem em áreas tropicais e subtropicais, em águas apresentando temperaturas médias de 20ºC, com boa iluminação, muita oxigenação, poucos nutrientes e baixa turbidez.”
Porém, essa definição se mostrou incompleta e incorreta, em alguns de seus aspectos, devido à recente descoberta dos recifes de corais na costa do Estado do Amapá, na qual as condições de baixa luminosidade e intensa turbidez são características regionais predominantes, não sendo essas condições fatores para a inviabilidade da existência de recifes de corais na região.
Imagem – Recife de corais, esponjas e rodolitos encontrado na Amazônia
Ainda não se sabe como esse ecossistema se estabeleceu na Amazônia ou como funciona sua dinâmica ecológica ou mesmo o grau de importância que o mesmo representa para a manutenção e equilíbrio dos demais ecossistemas presentes na região.
Todas essas incógnitas ocorrem juntamente com a iminência da exploração de petróleo na região, fazendo surgir incertezas sobre como a atividade petrolífera pode influenciar nos recifes de corais.
É importante salientar que a exploração de petróleo na região pode representar um marco positivo no desenvolvimento do Amapá, porém, com a descoberta dos recifes de corais, é necessário um novo olhar sobre como essa exploração pode ocorrer e como a atividade pode influenciar nesse ecossistema.
Formação e dinâmica dos recifes de corais
Os recifes de corais são formados a partir do CaCO3(s) proveniente da estrutura esquelética de animais mortos e do acúmulo natural de sedimentos, servindo de abrigo e fonte de alimento para diversas espécies marinhas de animais.
A dinâmica que conhecemos dos recifes de corais ocorre, de forma simplificada, através da relação simbiótica das zooxantelas (algas microscópicas) com os corais, na qual as zooxantelas realizam a fotossíntese e liberam nutrientes para os corais, também auxiliando na formação de seu exoesqueleto, por sua vez o coral oferece abrigo e produtos gerados pelo seu metabolismo a essas algas. Simultaneamente, as algas coralinas cementam a estrutura dos corais e as cianobactérias (algas verdes e azuis) promovem grande parte da fixação de nitrogênio e servem de alimento para os animais herbívoros e que, juntamente com o zooplâncton, são fonte de energia para os carnívoros. O ciclo recomeça a partir da liberação de novos nutrientes no meio.
A figura abaixo representa essa dinâmica.
Figura – Diagrama básico da dinâmica de recifes de corais
Também, os recifes são responsáveis pela disposição de grande parte do cálcio nos oceanos e lagos e de mais de 111 milhões de toneladas de carbono por ano.
Os recifes e a influência da atividade petrolífera
As atividades petrolíferas que apresentam maiores riscos aos recifes de corais são a poluição por derramamento de óleo e emissão de cascalhos provenientes do processo de perfuração dos poços de extração.
Imagem – Base de exploração de petróleo offshore
Na poluição por óleo o impacto aos recifes pode ocorrer de forma superficial (quando o óleo é leve), ocorrendo o cobrimento dos recifes, ou de forma completa (quando o óleo é pesado), havendo penetração de óleo por toda a estrutura do coral atingido. Essas interações podem causar danos agudos ou crônicos e vão depender do tipo e toxicidade do óleo.
Os principais impactos já observados nesse contexto estão ligados às taxas menores de reprodução dos corais e até sua completa esterilidade, bioacumulação de óleo e impactos nos demais organismo que habitam os corais como plâncton, algas, invertebrados e peixes, causando afastamento, contaminação e morte.
É importante destacar que o grau de impacto depende da quantidade de poluente disposto, do tipo e da frequência de contaminação, que juntamente com fatores ambientais podem diminuir a capacidade de resiliência dos recifes. Também os recifes, naturalmente, apresentam capacidade de restabelecimento quando submetidos a impactos por óleo, em impactos agudos os recifes apresentam maior capacidade de resiliência, porém em impactos crônicos os efeitos podem ser irreversíveis.
Os impactos indiretos da poluição de recifes pode ocorrer nas atividades pesqueiras, pois muitos peixes utilizam os recifes como abrigo, em estruturais litorâneas como orlas, diques e trapiches, pois os recifes são barreiras naturais que diminuem a força de ondas e impactos no turismo de regiões que exploram essa prática.
Considerações
A importância ecológica e econômica dos recifes de corais são indiscutíveis, pois são peças-chave na manutenção e equilíbrio ecológico de diversas espécies de animais, que por sua vez são fonte de alimento e renda para a região, principalmente em atividades pesqueiras, além do turismo.
Atividades ligadas ao petróleo por todo o mundo têm mostrado a fragilidade desse ecossistema em relação à poluição por óleo, quando ocorrem derramamentos, e pela perfuração de poços de exploração, que podem causar danos irreparáveis.
A recente descoberta de recifes de corais na costa do Estado do Amapá tem mostrado preocupação quanto ao futuro desse ecossistema, visto que o processo de iniciação de exploração de petróleo na região está próximo. Por se tratar de um ecossistema até então desconhecido pela ciência, não existem informações sobre o estabelecimento dos recifes de corais na região e nem o grau de influência que o mesmo apresenta sobre o ambiente regional, sendo impossível realizar um diagnóstico sobre os riscos que a atividade petrolífera pode causar.
Logo, são necessários a existência de pesquisas e estudos para demonstrar a dinâmica desses recifes com a região para embasar estudos de impactos ambientais condizentes com mais esse ecossistema e assim planejar o modo mais eficiente e menos impactante para que a exploração de petróleo na região possa ocorrer com o mínimo de riscos ambientais, sociais e econômicos.
Autor
Elizeu Vasconcelos
Consultor Ambiental