Como visto anteriormente, na publicação sobre lagoa facultativa, esta tecnologia tem o objetivo de digerir a matéria orgânica presente no esgoto doméstico e/ou industrial a fim de ser lançada no ambiente de forma a amenizar os impactos ambientais.
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O objetivo da lagoa anaeróbia é o mesmo, porém é utilizada quando a carga de DBO (demanda bioquímica de oxigênio) é relativamente alta. A eficiência da remoção de DBO, na lagoa anaeróbia, pode chegar aos 70%, sendo necessária uma segunda unidade para completar o tratamento, na qual, geralmente, é utilizada uma lagoa facultativa. Esse arranjo formado por lagoa anaeróbia e facultativa é chamado de sistema australiano.
Lagoa anaeróbia
A lagoa anaeróbia é caracterizada por utilizar uma área pequena, se comparada à lagoa facultativa, e por todo processo de digestão de matéria orgânica ocorrer em ambiente anaeróbio, ou seja, na ausência de oxigênio.
Esse estado é alcançado devido ao consumo de oxigênio ter taxa superior ao de produção dentro da lagoa. A reaeração atmosférica e fenômenos de fotossíntese exercem pouca influência nesse balanço.
Como as reações anaeróbias geram energia em taxas menores do que as reações aeróbias, o processo de remoção da matéria orgânica se torna mais lento nesse ambiente.
A estrutura de uma lagoa anaeróbia é geralmente simples, sendo mais profunda do que a lagoa facultativa, na ordem de 3 a 5 metros, dependendo dos critérios de dimensionamento, e ocupando área menor. A profundidade da lagoa é que garante a ausência de fotossíntese, impedindo que a luz solar adentre completamente na lagoa.
O processo de tratamento do esgoto envolve a liquefação e formação de ácidos, etapa realizada pelas bactérias acidogênicas, e geração de metano (metanogênese), através das bactérias metanogênicas. O processo de liquefação e formação de ácidos é caracterizado pela transformação da matéria orgânica em compostos mais simples e, posteriormente na metanogênese, em gás metano, havendo a remoção da DBO, sendo o carbono removido na forma de gás metano, que escapa para a atmosfera.
Após o tempo de detenção o efluente segue, parcialmente tratado, para a lagoa facultativa.
Sistema australiano
Como o afluente ainda necessita de tratamento, pois nem toda a matéria orgânica foi removida no processo de digestão anaeróbia, o mesmo segue para uma segunda etapa, a lagoa facultativa, na qual será completado o processo.
Esse sistema formado pela cooperação entre a lagoa anaeróbia seguida de lagoa facultativa recebe a denominação de sistema australiano, sendo utilizado quando existe uma grande demanda por tratamento de efluentes domésticos e/ou industriais, geralmente devido a grande carga de DBO presente.
Figura – Exemplo de Sistema australiano de lagoas
Considerações
Um dos principais aspectos a serem observados quando da implantação de um sistema australiano são as características do efluente a ser tratado, que tem influência direta nos critérios de dimensionamento, verificando sua viabilidade.
A lagoa anaeróbia reduz a área da lagoa facultativa, ou seja, se fosse necessário construir uma lagoa facultativa para remover a mesma quantidade de DBO de um sistema australiano, as dimensões da lagoa facultativa seriam muito maiores do que a conjugação da lagoa anaeróbia com a facultativa.
A lagoa anaeróbia é mais eficiente em climas quentes, devido à reprodução da biomassa e a remoção de DBO ser mais eficiente, porém as bactérias metanogênicas são sensíveis a mudanças ambientais como pH, temperatura e oxigênio dissolvido. Se as condições ambientais não forem favoráveis pode haver um desequilíbrio entre as populações de biomassa, podendo gerar mau odor e interrupção do processo de remoção de DBO.
A digestão anaeróbia influência na estrutura da matéria orgânica que compõe o afluente que será tratado na lagoa facultativa, tornando-o menos propícios a fermentação e a flutuação e aumenta a eficiência da decomposição.
Autor
Elizeu Vasconcelos
Consultor Ambiental