No primeiro momento, lembra-se do discurso de que a culpa é das pessoas que se alojaram nesses pontos críticos de alagamento e inundações, pela infraestrutura precária, pelo acumulo de lixo nos bueiros e canais e, principalmente, pela falta de um sistema eficiente de drenagem.
Mas ao observar quais são as áreas onde ocorrem sucessivos alagamentos e inundações no período de chuva, identifica-se que são aquelas naturalmente propensas a este fenômeno, devido às características regionais topográficas e climáticas.
Os alagamentos e inundações tem se tornado mais frequente devido aos fatores já citados, mas um quesito muito importante nessa discussão são as áreas de ressaca. Macapá conta com um sistema natural de drenagem, as áreas de ressacas. As ressacas, que são áreas úmidas com consequentes inundações e integram cursos d’água, estão em cota topográfica baixa e por isso boa parte da água da chuva que ocorre em Macapá acaba escoando para seu leito. Naturalmente, isso evitaria inundações, pois as ressacas servem de reservatórios para as águas precipitadas e recarregam os lençóis freáticos.
As inundações ocorrem devido à ocupação dessas áreas; a ocupação das áreas ao seu entorno; além do aterramento de parte dessas regiões e o acúmulo de lixo (que impede o escoamento da água).
Veja na figura 1 as regiões com cotas topográficas e na figura 2 as áreas sujeitas a inundações.
Figura 1 – TOPOGRAFIA DO MUNICÍPIO DE MACAPÁ
FIGURA 2 – ÁREAS SUJEITAS A INUNDAÇÃO NO MUNICÍPIO DE MACAPÁ
FONTE: ZEE, 2008.
Percebe-se que as áreas sujeitas a inundações, de fato, estão em áreas de ressaca ou próximas e em cotas topográficas baixas.
Mas esse diagnóstico não quer dizer que não se deve fazer nada para evitar os alagamentos e inundações, pelo contrário, é necessário propiciar qualidade ambiental para as pessoas que, mesmo de forma irregular ou por falta de planejamento municipal, ocupam essas áreas.
A solução para esse problema requer ações multidisciplinares tanto pela sociedade quanto pelo poder público municipal, que vai desde a educação ambiental (não jogar lixo nos canais e redes de drenagem) até soluções estruturais e reguladoras.
Os alagamentos e inundações só ocorrem quando a águas pluviais e fluviais não têm mais para onde escorrer, assim interrompendo o seu percurso natural, mas qual o sentido de impermeabilizar grandes áreas sem promover a drenagem das águas?
E QUAL SERIA A SOLUÇÃO PARA ESSES PROBLEMAS DE ALAGAMENTOS E INUNDAÇÕES NO MUNICÍPIO DE MACAPÁ?
Um primeiro passo já está em andamento. O município de Macapá já iniciou o processo de elaboração do plano municipal de saneamento básico (PMSB), que é um instrumento estratégico de planejamento e gestão participativa, que envolve um conjunto de infraestruturas como;
- Abastecimento de água potável;
- Esgotamento sanitário;
- Limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos; e
- Drenagem e manejo das águas pluviais urbanas;
Na qual está realizando um diagnóstico desses temas do município e servirá como base para propor medidas para solucionar ou amenizar esses problemas.
VOCE PODE ACOMPANHAR ESSE PROCESSO DO PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO ACESSANDO O SITE DISPONIBILIZADO PELA PREFEITURA DE MACAPÁ.
Plano Municipal de Saneamento Básico de Macapá
Para o futuro plano de saneamento urbano para Macapá
Algumas soluções práticas básicas que o plano deve adotar;
- Educação ambiental;
- Remanejar pessoas que vivem nas áreas sujeitas a constantes inundações e fiscalizar para que as áreas desocupadas não sejam novamente ocupadas;
- Desobstrução de canais naturais de águas pluviais;
- Restruturação de sistemas danificados de drenagem de águas pluviais;
- Construção de rede de drenagem pluvial;
- Diminuição de áreas impermeabilizadas na cidade de Macapá e consequentemente o aumento de áreas para drenagem das águas pluviais (áreas verdes – regulamentação de lei para obrigar que toda área dentro do perímetro urbano tenha um quantitativo mínimo disponível para a infiltração da água no solo);
- Em casos críticos, utilizar sistema de bombeamento em regiões baixas para impedir os alagamentos e controle de nível topográfico do lote;
Vale ressaltar que as medidas que levam em consideração o afastamento das águas para outras regiões através de escoamento em condutos estão ultrapassadas, infelizmente a maioria das obras de infraestrutura no Brasil ainda ocorrem na perspectiva de escoar rapidamente as águas através de condutos o que requer um investimento alto e muita das vezes não resolve o problema, apenas o transfere para outra região.
As soluções mais adequadas, no ponto de vista moderno e sustentável, são as adotadas nas partes dos sistemas de drenagem, como medidas na fonte (medidas nas residências, lote, etc.), na microdrenagem (medidas em nível de loteamento) e macrodrenagem (medidas que envolvam nos rios, canais, etc.).
Na fonte correspondem as medidas que visam deter a água da chuva em reservatório (podendo utilizar posteriormente), utilização de pavimentos permeáveis, de áreas de infiltração para drenar águas de áreas impermeabilizadas, telhados verdes e outras.
Na micro e macrodrenagem as medidas atuais são relacionadas aos conceitos de detenção (reservatórios urbanos secos para utilização em curtos períodos) e retenção (reservatórios com lâmina d’água) que além de evitar a maior parte dos alagamentos, contribui para o paisagismo, recreação e melhoria na qualidade das águas.